Fibra de Valente (1973)

Walking-Tall-1973-movie-poster2

Título Original: Walking Tall

Não esperava que esse filme fosse me impressionar tanto! Eu já tinha visto o Walking Tall de 2004 com o The Rock, que toma ainda mais liberdades do que este de 73 em relação ao mito em torno de um xerife de uma pequena cidade do Tennessee. Sempre gostei do remake e tinha a curiosidade de assistir ao filme original, que nunca vi em muitas listas por aí por mais que tenha sido um grande sucesso de público (pelo menos no sul dos Estados Unidos).

Engraçado que o filme abre com os títulos dizendo que a história do filme é baseada livremente em alguns eventos da vida de Buford Pusser e encerra: “uma lenda viva”. E eu pensei: “que presunção escrever isso logo assim de cara”. Eu não conhecia em detalhes a vida do homem que deveria ser bem mais famosa por lá já que os eventos retratados no filme aconteceram entre 1962 e 1967. Buford parece ter sido mais um daqueles “homens de bem” mas sofreu como o diabo pela teimosia e por fazer o que achava que era o certo. Sua vida não foi tão intensa quanto a de um Wyatt Earp, por exemplo, e muita coisa no filme foi adicionada, mas personalidades fortes como a dele nunca deixam de impressionar, mesmo que o jeito encontrado por ele para resolver os problemas da sua cidade seja carregar um pedaço de madeira para rachar crânios quando necessário.

No filme estrelado por Joe Don Baker, Buford é um ex-lutador profissional de wrestling, que fez parte da marinha americana, ganhou alguns troféus como jogador de futebol americano na faculdade e ainda é casado com dois filhos e um cachorro. Nada mais americano. Ele desiste de lutar e volta para sua cidade natal para sossegar e começar a trabalhar com seu pai numa madeireira. Tudo parece um episódio de Os Pioneiros. Até que ele descobre que a cidade virou um antro de prostituição, bebidas ilegais e jogos de azar. Sua economia virou dependente do vício. Logo na marca de dezoito minutos Buford arruma confusão com os seguranças do Lucky Spot,  um dos bares da cidade, desconfiado que a casa está trapaceando. A cena pode não ser perfeita em relação a habilidade dos envolvidos em brigar para as câmeras, mas é brutal com sangue e móveis destruídos. Até que Buford está dominado na mesa de jogos. Um dos “seguranças” tira uma faca e começa a cortar o peito do homem!

fibra-de-valente-1

É aqui que eu deixei de achar que o filme seria um drama para imaginar um legitimo exploitation, mas o filme consegue manter um pé em cada terreno. Um mais sério e um mais apelativo. É estranho que essa tenha sido a tática usada pelos leões de chácara do bar contra Buford. Cortar o peito dele e deixá-lo jogado à beira de estrada? Se era para dar um susto, eles exageraram muito na dose. Se era para matar, o trabalho ficou pela metade. Depois de passar um tempo se recuperando na serralheria com seu pai (e reencontrar o amigo Obrah), Buford volta ao bar Lucky Spot carregando um pedaço de madeira que ele passou esculpindo durante todo esse tempo. Ele destrói todos os seguranças numa cena ainda mais violenta que a anterior. No dia seguinte obviamente vai preso. É muito engraçado ver uns senhores carecas todos quebrados no julgamento. Só nos anos 70 mesmo. Enfim, o cara se defende sem um advogado, mostra as cicatrizes no meio do julgamento, grita com o júri que nem um maluco e é declarado não culpado. Pesquisei aqui mas não encontrei se ele realmente fez isso, mas no filme é badass por mais absurdo que seja.

fibra-de-valente-2

Segui com essa cabeça até o fim do filme. Um misto de admiração e incredulidade. Buford é eleito xerife do condado. Como é possível que ainda nos anos 60 um condado possa eleger qualquer pessoa para se tornar o xerife de uma cidade, mesmo que ela tenha um histórico de violência? Como essa pessoa tem a autoridade para escolher seus deputies entre amigos de infância, para carregar armas por aí como no velho oeste? Buford anda no começo do mandado sem uniforme, sem distintivo e com um pedaço de madeira para acabar com o crime. Mas o grande lance do filme é que Buford é ingênuo e vulnerável. Ele procura estudar as leis do país para deixar de ser ignorante para enfrentar o juiz da cidade. Ele se aproxima da comunidade negra e tem Obrah como melhor amigo numa cidade racista. É feito de idiota (na cena mais engraçada do filme). Matam seu cachorro e ameaçam sua família. E quase o matam mais umas 4 vezes durante o filme. Tudo isso vai dando ao personagem nuances para que a gente possa simpatizar com ele. O que muitas vezes não acontece no tipo de filme em que alguém decide fazer justiça com as próprias mãos. Buford está mais para Serpico do que para Dirty Harry.

fibra-de-valente-3

Não é difícil adivinhar que o filme vai ter um fim trágico. E punk rock.  Buford e sua mulher Pauline são metralhados enquanto passeavam de carro por membros da aliança que controla as atividades ilegais na cidade. A violência da cena é bem explicita. O corpo de Pauline fica estendido e cravado de balas por cinco minutos na tela, enquanto os dois esperam resgate, Buford com o maxilar destruído pelas balas. Já no hospital os amigos do xerife vêem seu filho passar pelo corredor com uma espingarda e uma caixa de balas na mão. Apelativa ou não, funciona. E quando achamos que o filme vai terminar por aí, Buford com uma mascara de gesso, volta ao Lucky Spot para vingar a morte da mulher. Quem já viu sua cota de slashers (ou assistiu Devil’s Rejects) pode até achar que o xerife vai se torna ele mesmo um monstro na história, mas o filme já passou dos 120 minutos. Buford atropela dois homens e destrói a fachada do Lucky Spot. Logo em seguida todo mundo que estava no velório de Pauline parece que teve a mesma ideia e aparece no lugar e decide botar fogo em tudo que encontram lá dentro. Tudo acompanhado por uma balada triste na trilha sonora como só acontecia nos anos 70.

fibra-de-valente-4

Toda essa profusão de ações e reações que deixa o filme interessante. Buford destruiu sua vida e de sua família. Não é um final feliz e a violência, justificada. O filme termina com ele no banco de trás de um carro de polícia como se os policiais estivessem levando Hannibal Lecter para cadeia. Há muita controvérsia a respeito da verdadeira história dele e sua ascensão a mito. Na vida real nunca saiu sozinho procurando os homens que mataram sua mulher, mas (há suspeitas que) contratou assassinos profissionais para matar quem ele achava que havia cometido o crime. E provavelmente deve ter sido um péssimo oficial da lei e pai de família por ter sido tão irresponsável e briguento. Mas no Estado do Tennessee o filme passou O Poderoso Chefão nas bilheterias e há um museu em sua homenagem. Mas prefiro assistir a um exploitation de xerifes e detetives, que prefere deixar os “vilões” em segundo plano, do que ver uma porrada de filmes da mesma época que procuram “examinar” a natureza da maldade humana e acabaram famosos mesmo pela polêmica.

fibra-de-valente-5

Veredito

Pontos Fortes: 

  • Filmes baseados em histórias reais sempre te deixam com aquela pulga trás da orelha de “isso não pode ter sido verdade” que torna cada cena mais interessante. Mesmo que muita coisa seja inventada.
  • Felton Perry e Bruce Glover.
  • A cena em que Buford “interroga” um policial ameaçando explodir o homem enquanto segura uma daqueles detonadores de TNT do Willie Coyote.
  • E esse titulo nacional hein? Mais filme de vô impossível.


Pontos Fracos:

  • Você sente que o filme é um pouco cansativo por mais que sempre tenha alguma coisa acontecendo. Aquele lance que sempre acontece em filmes de baixo orçamento e o motivo porque alguns diretores ficam mais famosos que outros.
  • Poderiam ter aprofundado mais a personagem de Callie, a maior vilã do filme.

Último Pitaco: Talvez o melhor filme de republicano que eu vá assistir na vida.

2 comentários em “Fibra de Valente (1973)

  1. Eu acredito que o Buford Pusser foi um justiceiro e como um bom sagitariano, fez justiça a qualquer preço e até as últimas consequências. Assisti este filme quando menina e fiquei impressionada, jamais esqueci.

    Curtir

Deixe um comentário